Ultimamente fala-se muito no cânhamo… mas qual a importância nutricional desta semente na alimentação?
O cânhamo não está relacionado com a cannabis ou a marijuana?
Mas será o cânhamo é tão saudável quanto apregoam?
Sem dúvida! - as sementes de cânhamo constituem uma fonte nutricional sólida, semelhante à linhaça.
O cânhamo não vai revolucionar a sua saúde, mas vai fornecer-lhe uma base nutricional chave, especialmente quando se opta por uma dieta exclusiva, ou principalmente, vegetariana.
Pode-se tirar proveito das propriedades nutricionais do cânhamo de três formas distintas:
- Sementes de cânhamo;
- Óleo de cânhamo;
- Proteína de cânhamo.
Estas pequenas sementes fornecem todo o poder nutricional do cânhamo com o seu alto teor de ácidos gordos omega 3 e omega 6 e um perfil muito bom de aminoácidos.
As sementes de cânhamo também são ricas em magnésio, um nutriente que ajuda a relaxar, a controlar o açúcar no sangue, a regular a pressão arterial, e a prevenir a osteoporose - regra geral as mulheres têm alguma carência deste mineral.
Três colheres de sopa de sementes de cânhamo descascadas fornecem 10g de proteína, 14g de gordura (a maior parte proveniente dos omega 3 e omega 6) 2g de fibra.
Sugestões de utilização - as sementes de cânhamo são muito versáteis e podem ser polvilhadas nas saladas, misturadas com sopa, iogurte ou até com gelados, ou adicionadas a um smoothie.
Encontrado na composição de muitos produtos de beleza e cuidado da pele, o óleo de cânhamo, também pode ser usado na cozinha.
No entanto, porque as suas gorduras poli-insaturadas podem oxidar a quando muito aquecido, não é recomendado para cozinhar a altas temperaturas - o seu ponto de fumo (a temperatura a partir da qual as gorduras se começam a degradar) é mais alto do que o do óleo de linho, mas inferior ao do azeite.
Para procurar evitar a oxidação das gorduras, o óleo de cânhamo deve ser mantido no frigorífico.
Sugestões de utilização - o óleo de cânhamo tem um sabor que recorda o da noz, o que o torna uma óptima opção para molhos de saladas.
Se não come muita, ou qualquer, proteína animal, a proteína de cânhamo é um valioso aliado do qual se pode socorrer.
É uma proteína quase completa excepto no tocante ao aminoácido lisina em que é mais pobre.
Os suplementos de proteína de cânhamo são diferentes de um batido de proteína de soro de leite tradicional, uma vez que estes contêm uma quantidade apreciável de hidratos de carbono (9g) e fibra (8g), os que os aproxima mais de um substituto de refeição ou de um snack do que de um batido de proteína pura.
A Proteína de cânhamo ainda lhe fornece uma grande quantidade de nutrientes contidos nas sementes de cânhamo como, por exemplo, o magnésio, o ferro e a vitamina E.
Sugestões de utilização - experimente este delicioso batido cheio de nutrientes:
- 1/4 chávena de pó de proteína de cânhamo;
- 1 1/2 chávenas de "leite de amêndoa" sem açúcar baunilha;
- 1 pitada de baunilha, a gosto;
- 1/2 chávena de mirtilos;
- bata com 2 a 3 cubos de gelo até ficar homogéneo.
Se é um facto que o cânhamo fornece uma série de benefícios nutricionais, há duas coisas a manter na sua mente quando incorpora esta semente na sua dieta:
Quando falamos de "superalimentos", concentramo-nos muito nas suas vantagens nutricionais, mas esquecemo-nos que eles também contêm calorias.
As sementes de cânhamo são compostas por cerca de 45% de gordura (apesar de ser gordura boa), pelo que duas colheres de sopa contêm cerca de 9g de gordura e 100 calorias.
Se começar a adicionar sementes de cânhamo nas suas saladas, smoothies, e no seu iogurte matinal, as calorias unsuspeitas vão-se acumulando ao longo do dia.
A leucina é o aminoácido responsável por desencadear o mecanismo de construção de tecido muscular no nosso organismo.
Para desenvolver e manter um corpo atlético e seco, é importante ter a leucina a accionar esse "interruptor" celular ao longo de todo o dia.
A investigação mostra que precisamos de cerca de 3g de leucina por refeição (talvez menos se tiver uma compleição menor).
Apesar do seu perfil diversificado de aminoácidos, a proteína de cânhamo tem apenas 0,6g de leucina por cada 15g - por isso não confie exclusivamente no cânhamo para lhe fornecer a sua base proteica.
A palavra cannabis muitas vezes faz-nos lembrar um "charro" a arder ou um cachimbo a libertar fumo branco...
Na maioria das vezes, o termo não seria relacionado com o fabrico de plásticos biodegradáveis feitos à base de plantas, de papel durável ou de tecido com características militares.
Mas, de facto, a cannabis tem tanto a ver com estes produtos industriais obtidos à base de cânhamo como com a droga recreativa marijuana (também conhecida como haxixe, maconha ou pote).
Daí a questão - em que difere o cânhamo da marijuana?
Sendo uma das culturas que o Homem domesticou há mais tempo, esta planta foi desenvolvendo distintas variedades para uso industrial e medicinal.
A mais alta e resistente foi cultivada pelas civilizações mais antigas para obter alimento, óleos e têxteis (cordas e tecidos).
A outras variedades foi reconhecido o seu efeito psicoactivo e foram cultivadas especificamente para efeitos medicinais ou religiosos.
Os cientistas acreditam houve uma diferenciação de genes nos primórdios que geraram duas variedades de planta de cannabis:
- a Cannabis indica;
- a Cannabis sativa.
As plantas da família Cannabis contêm compostos próprios designados por canabinóides.
A ciência isolou cerca de 60 canabinóides distintos até ao momento, mas o mais conhecido de entre eles é o designado por THC.
Enquanto que a marijuana, propriamente dita contém um alto teor de THC, o cânhamo contém uma quantidade ínfima desta substância psicoactiva.
É precisamente esta diferença que permite distinguir o cânhamo da marijuana - por exemplo, países como o Canadá estabeleceram um limite máximo de 0,3% de THC no cânhamo, valor a partir do qual se considera estarmos na presença de marijuana.
Para termos um termo de comparação, a marijuana para uso medicinal tem entre 5 e 20% de THC, em média (pelo menos 17 vezes mais de THC).
Tanto o cânhamo como a marijuana contêm um outro canabinóide importante - o CBD.
Este composto (CBD) reduz o efeito psicoactivo do THC - ora sucede que a planta do cânhamo produz mais CBD do que THC, enquanto que a planta da marijuana produz mais THC do que CBD, o que ainda distancia mais o cânhamo da marijuana.
Porque a marijuana e o cânhamo são cultivados para fins distintos, o modo de cultivo das duas variedades são muito distintos.
O Cannabis de utilização medicinal tem sofrido um processo de selecção e melhoramento ao longo dos tempos por forma a maximizar os níveis de THC - por isso o seu cultivo ocorre em estufas ou outros espaços de ambiente controlado (luz, temperatura, humidade, níveis de oxigénio e dióxido de carbono, etc).
Já o cânhamo é cultivado ao ar livre onde se procura obter o maior crescimento para favorecer uma boa e abundante colheita.
A marijuana continua a ser objecto permanente de estudos com vista à sua utilização médica em distúrbios de natureza psíquica e em doenças degenerativas do sistema nervoso.
Já o cânhamo tem sido muito estudado na indústria, tendo-se conseguido produzir um supercondutor baseado no cânhamo cru que tornou a possibilidade de construir baterias baratas e de carregamento rápido a partir desta planta.
A utilização da fibra do cânhamo também permitiu criar um plástico biodegradável que se está a tornar um material comum na indústria automóvel.
Em resumo, a característica comum à marijuana e ao cânhamo é a possibilidade de no futuro próximo serem descobertas ainda mais utilizações desta planta, para bem da Humanidade.