Sei que isto soa extremamente estranho, mas tecnicamente, temos um "tubo longo" que atravessa o nosso corpo de um lado ao outro, como se um túnel nos atravessasse, com a entrada na boca e a saída no ânus.
Esse tubo designa-se "canal alimentar" e é composto pela boca, esófago, estômago, intestinos e ânus.
Pode ser fechado pela boca, ânus e certos esfíncteres ao longo do trato digestivo.
No entanto, tecnicamente, este canal não está completa e permanentemente selado do mundo exterior.
Assim, do ponto de vista fisiológico, dizemos que o conteúdo desse canal está "do lado de fora do nosso corpo" - incrível, não?
Então e porque é que o tracto digestivo está "fora do nosso corpo"?
Por uma razão imunológica muito importante - como sabe, o nosso ambiente está naturalmente repleto de biliões de bactérias.
Não fique assustada(o), uma vez que as bactérias desempenham um papel muito importante na manutenção da vida na terra.
No entanto, o nosso organismo não está preparado para deixar qualquer desses "bichinhos" provenientes do mundo exterior entrar na nossa corrente sanguínea.
Assim sendo, o nosso tracto digestivo contém um sistema imunitário muito sofisticado para se certificar de que aos "bichinhos" que engolimos e comemos não é dado livre acesso à nossa corrente sanguínea.
É por isso que as bactérias e os alimentos são mantidos "fora de nosso corpo", como que trancados em segurança dentro do nosso sistema digestivo, até serem considerados seguros o suficiente para poderem passar através das nossas defesas imunológicas no nosso intestino e penetrar no nosso sangue.
Provavelmente pensará que a principal função do nosso aparelho digestivo é digerir os alimentos, mas há muito mais que este incrível sistema faz!
Continue a ler para descobrir neste artigo o que este sistema fascinante faz - muito mais do que simplesmente obrigá-la(o) a defecar periodicamente...
Para compreender verdadeiramente o papel que o intestino saudável desempenha em termos imunitários, precisamos conhecer o Tecido Linfóide Associado ao Trato Intestinal (GALT).
O GALT forra finamente a mucosa da nossa parede intestinal e funciona com uma dupla funcionalidade - um "filtro" e um sistema de detecção e triagem de tudo o que viaja através do intestino e pode ser potencialmente absorvido pela nossa corrente sanguínea.
O GALT é densamente povoado por grupos especiais de células do sistema imunológico conhecidas como "Placas de Peyer" (ou Conglomerados Linfonodulares Ileais).
Essas Placas são tecidos densos e ovalados localizados na membrana mucosa do intestino - cada adulto costuma ter entre 30 a 40 destas manchas, mas tendem a desaparecer com a idade, tornando-nos mais vulneráveis a infecções.
Consideradas os sensores do sistema imonulógico do intestino, o papel das células dentro dessas manchas é identificar bactérias potencialmente nocivas dentro do intestino, enredar esses potenciais patogéneos e desarmá-los antes que eles consigam entrar na nossa corrente sanguínea (e, dessa forma, apanhar uma boleia para todo o organismo!)
Estas Placas de Peyer também estimulam uma cadeia de reacções imunológicas que dificultam ainda mais o atravessamento do revestimento intestinal por parte de bactérias nocivas invasoras.
Em última análise, esse sistema de defesa é extremamente importante (mesmo fulcral) para impedir que bactérias nocivas invadam o seu corpo!
Bactérias intestinais, flora gastrointestinal, microbioma, saúde microbiana, flora intestinal e bactérias amigas - as "boas" bactérias do nosso intestino têm mais designações e nomes do que o rapper Snoop Dogg tem usado ao longo da sua carreira!
De qualquer modo, todos esses termos se referem coletivamente às inúmeras estirpes de bactérias que realizam o maravilhoso trabalho de manter nosso intestino na sua melhor forma, por forma a desempenhar as suas funções de forma superior!
De uma perspectiva imunitária, o facto de ter muitas das bactérias "boas" no nosso intestino ajuda a manter as bactérias "más" em permanente cheque-mate.
Ao contrário, sempre que as bactérias "más" são muito prolíficas, elas suavizam a mucosa do intestino de forma que as células sentinela dentro das Placas de Peyer não conseguem executar a sua tarefa de protegê-lo adequadamente.
O resultado?
Ficamos mais vulneráveis aos agentes patogénicos que apanhamos a partir do meio ambiente, ficando mais susceptíveis a doenças, e com mais frequência do que gostaríamos...
Além disso, as bactérias "boas" também ajudam a fermentar a fibra e amido resistentes para formar um ácido gordo de cadeia curta chamado butirato.
Butirato aumenta o fluxo sanguíneo da parede do intestino, o que é óptimo para a promoção da cura.
Este ácido gordo é uma fonte de energia essencial para as células que revestem o cólon e é extremamente importante para a reparação e crescimento de células de um cólon saudável.
Agora já percebe por que razão a ingestão de fibra e amido resistente estão associados com menores taxas de cancro do cólon!
Está demonstrado que uma flora intestinal saudável tende a reduzir a inflamação intestinal, um factor chave associado a muitas doenças - desde a vulgar constipação, passando pelas doenças cardiovasculares, problemas cognitivos, artrite e até mesmo cancro.
E para percebermos como tudo isto está ligado, será curioso referir que tratamentos à base de probióticos contribuíram para ajudar no tratamento de certos tipos de eczema!
O nosso intestino está repleto de nervos e neurotransmissores que formam uma rede neural chamada Sistema Nervoso Entérico (ENS).
O ENS está ligado diretamente ao cérebro, e por isso se entende mais facilmente a razão pela qual o stress e a ansiedade exercem um efeito tão poderoso sobre a nossa digestão.
Quem nunca sentiu um "aperto" na barriga quando estamos nervosos ou tensos, ou um formigueiro agradável quando estamos eufóricos - ou termos vómitos perante uma observação que nos causa repulsa?
A Investigação está apenas a começar a desvendar a complexidade das funções da ENS, incluindo o facto de as nossas células do intestino serem as maiores produtoras do neurotransmissor que melhora o humor - a serotonina!
Este inter-mecanismo tem originado pesquisas que se têm revelado fascinantes sobre a ligação entre o nosso intestino e certos distúrbios psico-comportamentais.
Existem muitos factores no nosso ambiente moderno que têm um impacto negativo sobre a nossa saúde do tracto gastrointestinal.
Desde a mais tenra idade que somos expostos aos medicamentos antibióticos, por exemplo, que interferem com o nosso microbioma.
E embora os antibióticos sejam concebidos para atacar as bactérias patogénicas (más), eles acabam por também atacar, de forma indiscriminada, as nossas bactérias boas também!
Pesticidas, herbicidas e outros produtos químicos agrícolas têm uma acção semelhantes à dos antibióticos - afinal de contas, a sua aplicação visa matar insetos que atacam as plantas, correcto?
Infelizmente, esses produtos químicos residuais acabam no nosso intestino quando comemos alimentos não-biológicos e matam as bactérias nossas amigas!
E lembrem-se que as águas de escoamento da agricultura não-biológica vão ter aos nossos cursos e lençóis aquíferos - e dessa forma a água não filtrada também pode estar contaminada com compostos químicos que reduzem a nossa flora intestinal.
Mas curioso é também o facto de que ser "super-higiénico" em casa também pode contribuir para desequilíbrar a flora intestinal - em particular, sprays e loções anti-bacterianas podem afectar desfavoravelmente o nosso microbioma.
O nosso organismo requer naturalmente alguma exposição à sujidade e aos germes para construir um sistema imunológico saudável e robusto - um excesso de 'limpeza' pode interferir com este processo natural.
Use Probióticos - Servem para restaurar os microorganismos "bons" do nosso intestino, especialmente se tomámos uma dose de antibióticos recentemente.
Coma Biológico - Evite os pesticidas que matam os bichinhos das nossas plantas... e do nosso intestino!
Torne-se "Verde" - Use sempre produtos de limpeza não tóxicos na sua casa.
Antibióticos como Último Recurso - Os antibióticos podem ser um salva-vidas em determinadas situações, mas o seu uso desnecessário mata as bactérias boas do nosso intestino.
Persiga o H2O - Os nossos corpos precisam de estar hidratados para manter as bactérias más a fluir através do nosso trato digestivo, por forma a serem mais facilmente eliminadas.
Proporcione "descanso digestivo" - O nosso intestino não pode descansar e reparar-se quando se come demasiado ou se comer com demasiada frequência. Embora seja benéfico comer refeições pequenas e regulares, deve evitar estar a petiscar constantemente.
Coma muita fibra, amido resistente e prebióticos - Este é o combustível perfeito para as bactérias "boas" do nosso intestino.
Inclua alimentos fermentados na sua dieta - Estes alimentos apoiam e suportam a flora intestinal saudável!