Neofobia é uma palavra de origem grega (resultando da combinação dos vocábulos neo – novo, recém, de novo – e phóbos – ação de horrorizar, amedrontar, dar medo), que expressa uma tendência para a repulsa do que é novo, daquilo que é novidade e se torna assustador o bastante para afastar o ser do objeto, estando relacionada com a prudência, o receio do desconhecido e a resistência à inovação. Neofilia (neo + philos – amigo, querido, queredor) é o oposto: caracteriza-se como um impulso para o que é novidade, a tendência para a exploração, a necessidade de mudança, de novidade e de variedade.
No domínio da alimentação, a neofobia traduz-se, especificamente, na resistência a experimentar comida nova e/ou diferente da que é considerada “normal” pela pessoa neofóbica.
É sabido que o grau de desejo para experimentar novos alimentos é variável: enquanto alguns indivíduos demonstram um grande prazer em provar novos alimentos, ou seja, uma elevada neofilia alimentar, outros mostram uma grande aversão, relutância ou mesmo nojo relativamente a esses alimentos, por isso, uma grande neofobia alimentar.
A neofobia influencia a experimentação inicial dos alimentos, mas não é o único entrave ao seu consumo, uma vez que a continuidade do seu consumo vai depender de outros fatores, como, por exemplo, o bom sabor dos alimentos experimentados bem como da exposição regular aos mesmos e até da transmissão de informação nutricional.
Considera-se que o comportamento neofílico em relação à alimentação, pela diversificação de fontes de nutrientes que inclui no leque de escolhas, contribui para a satisfação das necessidades nutricionais e para a necessária variedade que caracteriza uma alimentação saudável. Alguns autores defendem até que “a neofilia maximiza o potencial de uma alimentação omnívora”.
Vários estudos provaram que pessoas neofóbicas seguem uma dieta mais pobre do ponto de vista nutricional do que pessoas neofílicas, no que respeita essencialmente a produtos hortícolas. Acresce que, ao diminuir a quantidade ingerida de fruta e produtos hortícolas, há uma tendência para que estes alimentos sejam substituídos por comida energeticamente mais densa e com um perfil nutricional menos adequado (ex. ricos em gordura, ricos em açúcares simples; ricos em sódio) . Há, também uma associação entre neofobia e uma diminuição do consumo de carnes de aves e peixes. A neofobia alimentar dificulta o atingimento das recomendações alimentares e nutricionais diárias e predispõe a um peso desadequado.
Assim, devemos expor-nos a nós próprios e a quem está ao nosso cuidado a uma grande variedade de alimentos, ainda que haja uma rejeição inicial.
Referências:
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